Pense, Fale, Exponha-se. Permita-se o prazer de ser autêntico.

terça-feira, 27 de abril de 2010

obliterado.


- Você tira toda a minha liberdade! Não me deixa fazer nada! Como você quer que eu crie responsabilidade se você ao menos me dá espaço?
- Você não vai, PONTO!
- Eu vou sim!
- É mesmo? E com que dinheiro você pretende ir?
Oito segundos de puro silêncio. Rompeu-se com o som da buzina que vinha da rua.
- Vou usar o dinheiro do papai!
- Qual dinheiro? O da faculdade? Boa ideia, vá em frente, menina malcriada! TOLA! ESTÚPIDA!
- Isso tudo é culpa sua! Quem disse que eu me importo com a faculdade? Quem disse que eu me importo com você? Eu odeio a sua superproteção! Amanhã eu faço 18 anos, e vou embora dessa casa! Embora da redoma na qual você me criou!
- Se for, NUNCA MAIS VOLTE!

E ela foi. Hoje, 8 anos depois, ela vive à margem da sociedade. Pobre, desempregada, 2 filhos e um marido bêbado, tão drogado quando ela.
Tola.
Estúpida.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

embalagens bonitas e vazias.


Ali, de mãos dadas com ele, ela estava radiante com seu novo vestido rosa. Bastou um presente numa bonita embalagem para que ela esquecesse toda a raiva que sentia por ele tê-la feito de boba. toda a angústia e a frustração de ser traída foram simplesmente compensadas por uma desculpa esfarrapada e um vestido de grife. Fernando se justificou com palavras que uma menina de 13 anos não teria aceitado. mas Juliana aceitou. mesmo com toda a experiência dos 24 anos de relacionamentos promíscuos e 'just in time', ela ainda se deixava enganar pelos homens que entravam em seu caminho.

E o pior: ela ainda se deixava comprar por presentes usados como forma de se desculpar pela noite passada. Talvez ela merecesse aqueles presentes; eles de fato pareciam ser uma parte de seu corpo, talvez sua alma. ela era materialista, fácil de ser comprada por um valor barato. ela não merecia ocupar espaço no mundo, ela não o acrescentava nada de bom. apenas paixões ardentes, sem nexo nem futuro.

Ela merecia mesmo aqueles homens que atraía. Aqueles relacionamentos vazios, cheios de juras de amor que mal resistiam ao primeiro mês.

O que ela nunca entendera era o porquê de sua paixão mais duradoura durar apenas 1 mês. A resposta era tão óbvia que lhe escapava: o problema não estava nas pessoas com as quais ela se envolvia, mas sim nela. Relacionamentos nada mais são do que um reflexo do nosso interior, e por mais que um vestido caro a faça esquecer de quão frustrada sua vida era, não importava quantas roupas bonitas e caras trajasse durante o dia, ela ainda dormiria e levantaria a mesma perdedora barata de sempre.

(SB; 20:01)

domingo, 11 de abril de 2010

sina.



Um dia ela resolveu encontrar seu destino.

Levantou-se da cama às 6. Banhou-se, pôs um jeans e uma camiseta folgada. Anseios e frustraçõs foram "esquecidos" em casa, nada hoje a faria covarde quanto nos últimos anos.

Andou sete quadras até o tão incomum destino, e fez o que sempre quisera - mas relutava em fazer. Bateu na velha porta de carvalho dos McLuhan, David abriu.

Ele, que ela fora apaixonada desde o primeiro colegial, estava ali, parado olhando-a como se fosse a primeira vez que ele a visse. E era. Não no sentido de ver, mas de notar. Mesmo estudando na mesma escola desde pequenos, ele nunca a notara. Por quê? Ele era bom demais pra ela, bonito demais, inteligente demais. Ela era apenas uma menina desengonçada do time de natação. Quem ligava se ela tinha ganho o estadual? Suas notas eram ruins, seu corpo era deformado pelo esporte. Ombros largos, não muito femininos. Mas seu rosto era suave, emoldurado por ondulados cabelos negros. Olhos de um verde folha que encantava todos aqueles que conseguiam que ela se deixasse encarar antes de virar o rosto tão rápido que era impossível deter. Sim, ela era bonita; mas David não via sua beleza, para ele mulheres precisavam ser inteligentes. A beleza está nos olhos de quem vê.

Então, sem pensar, ela fez o que tanto quisera desde que cruzara com David no corredor 6 anos atrás. Puxou-o e o beijou. Ali, na porta da casa dele, pra quem quisesse ver. Assustado, num primeiro impulso ele a afastou. Então a olhou: ela não era de se jogar fora. E estava ali, pedindo por mais um beijo. Então ele a beijou, dessa vez um beijo dignos dos filmes de época.

Dave se afastou, Marina sorriu, piscou, virou as costas e foi embora. Assim, sem dizer nada. Mas não foi o caminho de casa que ela seguiu, ela se dirigia para a rua 13. A rua do seu melhor amigo, Marcelo. Por todo o caminho, um sorriso estava estampado em sua face.

Então ela jogou três pedrinhas na janela de seu quarto, como faziam desde crianças. ele abriu a janela, e ela gesticulou para que ele descesse até o quintal. Ele desceu, e começou uma frase que ela não o deixou terminar. Algo sobre o que ela fazia aqui às 6:45 da manhã. Marina fez com Marcelo o mesmo que fez com David. Ao contrário de Dave, Marcelo nunca recusaria um beijo dela. Pelo contrário, sempre desejou e sonhou com aquele momento.

Quando levantou, naquela manhã, Marina desejava Marcelo. Mas precisava beijar Dave primeiro. Apenas pra saber como seria se fosse real. Mas não era. O amor de Marcelo era verdadeiro, e desde que ela podia se lembrar ele existia. Ele nunca a disse que a amava, mas ela já havia percebido há tempos. E hoje, ela resolveu dar uma chance não ao Marcelo - mas a seu próprio coração. E fez certo.

Naquele dia, ela começou a história que a faria viver seu primeiro amor. Mas ela precisou de coragem, e como precisou. Marcelo era o seu destino. E hoje, tornou-se sua realidade.

(SB; 10:38)