Pense, Fale, Exponha-se. Permita-se o prazer de ser autêntico.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Proteção.


Durante quase todo o dia, ele esteve sentado na rede da varanda curtindo o que costumeiramente chamamos de solidão. Não a solidão fria, gélida, cruel e doentia, mas a solidão silenciosa, calma, envolvente e acolhedora que o envolvia naquele início de mês. A cada balançada, o vento que batia em seu rosto parecia levar seus sentimentos, limpando sua alma; tornando-o mais racional.

Ele, que sempre possuira coração quente, finalmente estava conseguindo se desvencilhar emocionalmente das coisas e vendo-as de maneira concreta, plástica, com sua verdadeira forma. Agora ele não precisaria mais desperdiçar seu tempo e sentimento com objetos e pessoas. Para ele, era isto que elas passariam a ser: coisas.

Dentro dele, seu velho Eu lutava, tentando sair. Sabia muito bem que a ausência de emoções levava a um caminho pelo qual não queria passar.

A frieza, que começara como tentativa de proteção, aos poucos acabaria também com seu amor-próprio e com sua verdadeira essência. Mas não importava, ao menos por agora ele estava protegido.

(SB; 22:48)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mórbido.



Ele a trouxera para casa ao amanhecer, a colocara sobre a cama e fora tomar banho. Sua amada merecia a melhor forma que ele pudesse apresentar. Banhou-se, pôs sua melhor roupa e sentou-se na cama ao lado dela.

O corpo em repouso trazia uma expressão tranquila, enquanto trajava um lindo vestido branco de tafetá bordado com lantejoulas. Um vestido visivelmente de casamento. Entre as mãos, trazia um discreto buquê de suas flores preferidas - rosas brancas.

Fernando tocou levemente o queixo da amada. Em seguida, subiu suas mãos até que pudesse acariciar as maçãs de seu rosto. Ela já começara a tornar-se fria. Literalmente fria. Sob a maquiagem, notava-se que ela ficava cada vez mais pálida. Mais fria e mais pálida. A vida parecia exaurir-lhe pelos poros.

Fernando se lembrou de quando a viu pela primeira vez, a primeira vez que notou aqueles cachos dourados tão sublimes. Ele a amou desde aquele dia nublado de outono. Mas ele nunca a deixou saber disso.

Ele a observara por meses, mas nunca teve coragem de se apresentar. O que diria? Oi, te vi por aí, te amei à primeira vista e então comecei a te seguir? Não, ele não arriscaria sofrer repulsa pelo amor de sua vida. Então, ele apenas a observava. Viu-a sair com alguns, namorar com poucos e tornar-se noiva de outro. Casamento marcado, vestido escolhido, noivo errado.

Quem quer fosse o futuro marido sem dúvida não a amava sequer metade do que Fernando amava. Ele a amava mais do que tudo no mundo, mais do que qualquer um um dia viria a amar. Fernando desejava não apenas seu corpo, mas a sua essência.

Por isso ele a matara. Só assim ela seria dele - e de mais ninguém.

Fernando a olhou mais uma vez. Um longo e pesado olhar sobre a mulher mais perfeita que ele já vira, na tentativa de entender como alguém conseguia ser tão linda, ainda mais sob a pouca luz da aurora que entrava pela janela. Deitou a seu lado sobre a cama. Em seguida, bebeu algo que, pelo seu semblante, pareceu amargo. Fechou os olhos e a abraçou.

Para toda a eternidade estariam juntos. Pra ele, o amor era isso, não podia imaginar forma melhor de deixar a vida do que ao lado da mulher amada. Pra ela, o amor dele tinha sido apenas frio, doentio e - sobretudo - mórbido.

(sb; 14:47)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Connecting peole.



É um título ruim, eu sei. Mas não consegui pensar em nada melhor, como sempre.

Minha mãe não consegue entender como se pode ter carinho por alguém que nunca se viu na vida. Me parece bem quadrado da parte dela, que de antiquada não tem nada, pensar dessa forma.

Na maioria das vezes, ao conhecermos alguém, estamos abertos a novas experiências, novos amigos e novos amores. Principalmente na internet, onde geralmente podemos "fechar a porta" na cara da pessoa. Assim, se abrimos espaço para conversar com ela, é porque nosso coração está aberto também. Essa pessoa pode morar na cidade vizinha, no interior do seu estado, em outra região ou até em outro país. Em pleno século XXI, para a comunicação, distância não é problema.

Online, também perdemos um pouco o pudor. Expomos mais nosso lado positivo, reprimimos o lado negativo. Assim, nos tornamos mais amáveis, mais fáceis de conviver e até mais agradáveis. Cria-se um 'eu' melhorado, lapidado. Além disso, descremos nossa vida da forma que a enxergamos, o que muitas vezes facilita para que a outra pessoa tenha o mesmo ponto de vista. Encontra-se alguém que "pensa como você". E através do contato diário, do relato de nossas experiências e sentimentos, obtêm-se afeição. Dessa forma, fazemos verdadeiros amigos e criamos sentimentos verdadeiros por eles. Amigo virtual, afeição real.

Fiz alguns amigos nessa minha pouca bagagem online. Alguns deles permanecem até hoje, como o Dionne. Outros, a distância acabou se estreitando e conseguimos trazer nossa amizade pro off, como o Taruãn, o Eduardo, o Paulo Victor, o Kamui e o Douglas. Alguns outros eu acabei perdendo o contato.

Ainda me lembro do meu primeiro amigo virtual. Nossa, eu era bem inexperiente quando o assunto era internet naquela época. Era um menino da capital de São Paulo. Um ano mais velho que eu. Mas isso é outra história.

E é justamente a um deles que eu queria dedicar o post. Ao douglas, meu befo. Cuja amizade foi construída através de aulas de física via msn. E hoje, por ser aniversário dele, me inspirei a escrever sobre amizades virtuais aqui, mas o resultado não foi tão digno da nossa amizade, embora ela seja a melhor inspiração que eu poderia ter.

#HappyBday, BEFO! Te amo!

(SB; 11:01)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Carnaval.





Foi num desses bailes carnavalescos cariocas da década de 60. Ele estava fantasiado de Arlequim, ela, de colombina. Mais de mil palhaços no salão.

Ela esbarrou nele sem querer, derrubou sua bebida e pediu desculpas. Tão Logo estavam brincando o carnaval juntos.

Ele, carioca, boêmio, experiente, bailes apenas como maneira de matar o tempo.
Ela, mineira, pura, moça do interior, estava passando uns dias na casa da tia em Botafogo.

Entre marchinhas, lanças-perfumes e serpentinas; olhares, sorrisos e apertos de mão. Mas o fim do baile se aproximava, ela tinha de ir.

Se despediu, sorriu, beijou-lhe delicadamente e disse: "até o ano que vem".

De longe, Pierrot observava, enquanto uma lágrima escorria-lhe pelo rosto em brasa.

(SB; 00:13)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Chicletes e Batimentos Cardíacos.


Ela mascava o chiclete no ritmo das batidas de seu coração. Mastiga. Tum. Mastiga-mastiga. Tum-Tum.

Sobre o ombro, trazia o cachecol que sua melhor havia lhe dado quando fizeram 2 anos de amizade. Agora, já eram 5.

Pensou em todas as mentiras a qual havia sido exposta, as chantagens as quais havia cedido para não perder a amizade. A falsa melhor amiga, que roubou seu namorado. Que clássico.

Mastigou. Puxou o cachecol, jogou-o no chão. Pisou.

E voltou a mastigar suavemente seu chiclete.

(SB; 12:58)

Labaredas Tediosas.


Esse tédio que me consome tem o porvir de uma lenta e gradual chama agindo sobre mim. Aos poucos, sinto minha pele queimar, arder, desfragmentar e por fim desfalecer; assim como minh'alma perante as horas tediosas que se acumulam, dia após dia.

(SB; 12:49)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fiel e Amadurecido.



1.Adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro;
2. crença religiosa;
3. firmeza na execução de uma promessa ou compromisso;
4. crédito, confiança.


Esses dias me peguei incentivando um amigo a voltar pra igreja. Ele me respondeu algo como: "Por que você, que sequer acredita em Deus, tá me incentivando a voltar pra igreja?" Bom, a resposta é simples, mas não sei se ele entendeu da forma correta.

Eu não acredito em Deus, não mesmo. Também não duvido. Simplesmente não faz diferença na minha vida a existência Dele ou não. Mas eu acredito na fé e no poder que ela exerce sobre o ser humano.

Religião é dispensável, a fé não. Pra mim, o clichê de "a fé move monstanhas" é mais que verdadeiro. Acreditar na existência de um ser superior, faz com que acreditemos que há algo realmente bom reservado pra nós. Assim, faz com que busquemos esse nosso destino brilhante a qual estamos predestinados. Buscamos mais, insistimos mais e conseguimos mais.Querendo ou não, a igreja acaba incentivando isso indiretamente, através da fé e da crença na existência de Deus.

Mas comigo isso nunca funcionou. Eu só via hipocrisia naquele lugar, e acho que nunca acreditei de fato na existência de Deus. Eu só... aceitava, mas sem crer. Entretanto, tenho fé que nosso esforço determina quem somos e o quanto crescemos. Sem esquecer jamais que educação, caráter e consideração também são formas de amadurecimento.

(SB; 21:32)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Amor.


Ela me frustrou durante toda a manhã. Fez-me sentir incapaz com todas aquelas críticas e cobranças. Pôs defeito no meu vestido, no meu trabalho de bioquímica, na minha maquiagem e em tudo que pôde. Mas preparou o café, como se isso apagasse as brigas matinais.

Pôs a mesa e deu aquele mesmo sorriso de quando nos encontramos pela primeira vez. Depois de 3 anos, eu não conseguia entender como ainda podia causar um efeito tão devastador em mim. Contive-me. Seria necessário bem mais que um sorriso para me fazer esquecer os duros comentários daquela manhã. Meu orgulho se encarregaria bem disso.

Comemos. Recusei o beijo que ela tentou me dar, e parti rumo à faculdade. Mais uma vez meu orgulho manteve minha pose de irritada.

Já era tarde. Hora de retornar. Entrei. A casa estava escura, exceto por uma fresta de luz que saía de nosso quarto. Então, abri a porta.

O quarto estava à luz de velas aromatizadas. Ela sabia meu aroma preferido e resolveu explorar. Uma idéia muito boa, por sinal. Bem no meio de toda aquela luz, estava ela. Em pé, nua em pêlo. Cabelos soltos, olhar sedutor.

Parei a observar quão perfeita ela era sob toda aquela luz e nenhuma roupa.

Ela começou a deslizar sua mão pelo corpo. A cada centímetro acariciado, tornava-se mais difícil manter o orgulho. Então, ela veio andando até mim, pegou minha mão e a pousou sobre sua nuca. Começou a abrir os botões da minha camisa e acariciar meus seios.

Meus instintos se tornaram muito fortes para que meu orgulho conseguisse detê-los. Senti-me como se essa fosse a primeira vez que a via nua. Cedi, peguei-a no colo e a levei para a cama.

Não importa o que acontecesse, ela sempre sabia me fazer esquecer da raiva. Não importa o quão forte meu orgulho fosse, ela sempre conseguia transformá-lo em desejo.

Talvez esse seja o verdadeiro amor.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Eucalipto.


Ao sentir o cheiro de eucalipto, a imagem dela se tornou nítida em sua mente. Sempre assim.

A simples lembrança do seu sorriso e da paz que ela transmitia, traziam paz e harmonia. Seu cabelo esvoaçante contra o vento, sua silhueta contra a luz e o calor reconfortante dos seus braços.

Ela sempre seria lembrada e sua ausência seria sempre dolorosa.

Mães deviam ser eternas. Ou ao menos, tão duradouras quanto eucaliptos.

Intrínseco.



Entre suas entranhas, a dor. Laceral, patológica, latente. Profunda e cruel solidão.

Sob a máscara diária da felicidade, reinava um vazio que há muito não suportava esconder. Fingir doía mais do que isolar-se.

Então, ela o fez. Despiu-se da fantasia, procurou por um canto vazio e encontrou a solidão que tanto a afligia.

Começou a escrever páginas tolas e banais.

Palavras estas que vos escrevo.

Solidão esta que vos reporto.

Olhos Vítreos.


Era fim de setembro. A estrada parecia encontrar-se no infinito.

Com a cabeça encostada na janela, Carla observava a estrada vazia. No meio de toda a solidão, a imagem de uma menina se formou. Parecia estar à espera de algo. Ou alguém. Babados do seu vestido branco esvoaçavam com o vento.

Kilômetros à frente, a imagem tornou-se nítida: cabelos longos, ondulados e levemente acobreados. Contrastante com seu cabelo, sua pele. Muito pálida e aparentemente tão fria quanto seus olhos azuis.

Por uma fração de segundos, as duas se encararam e a menina revelou-se toda em apenas um olhar.

Ela era uma incógnita, um vazio a ser preenchido.

Foi suficiente para que Carla a reconhece. Aquela menina era ela, a espera de algo que preenchesse o seu vazio interior. Abandonada diante da grande e infinita estrada do destino, no qual só se via solidão.

Um som estridente ecoou por seus ouvidos.

Hora de acordar.

Hedonismo pueril.


Sua mão fria percorria com calma e sensibilidade o corpo da menina. Sua boca ardente explorava aquele delicado pescoço. As pernas se entrelaçavam e roçavam uma na outra. Seus cabelos grudavam no próprio suor. Pele, mãos, boca. Hormônios à flor da pele.

Transaram. Não uma, mas duas vezes. corações acelerados, dedilhadamente dissonantes.

Ao nascer do sol, ela se levantou, vestiu suas roupas o mais rápido que pôde e bateu a porta levemente ao sair.

Haviam se conhecido na noite anterior, não pretendiam nada além de uma transa casual. Por breves momentos foram um só.

Pra sempre seriam dois.

Sobre os relacionamentos.


Pensemos nas pessoas: você se apega, cria sentimentos por elas, e sempre sofre com isso. Seja por abandono, seja por desentendimentos, seja por distância ou por qualquer outro fator.

Vinícius afirmava que o amor é uma chama. Metaforicamente, como uma vela, a durabilidade é inversamente proporcional à intensidade. Quanto mais luminosa for, mais rápido se extinguirá. Cruel? Não. Real. Relacionamentos têm prazo de validade. Mas o que não tem validade, se a própria vida já a possui?


“Que eu possa lhe dizer do amor que tive:
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure”
Vinícius de Moraes


“A eternidade é o estado das coisas nesse momento.”
Clarice Lispector.

CAPÍTULO 2.

Melissa subiu as escadas rumo ao seu quarto. A cada degrau, o medo de um possível arrependimento se tornava mais nítido. Nem ela sabia bem o que tinha acabado de fazer.

Simplesmente havia tomado uma decisão de maneira impulsiva. Nunca havia feito isso antes. A boa e velha Mel se importava com o que os outros iriam pensar, nunca tomava decisões sem antes ponderar e fazia todo o esforço possível para mostrar para os outros que sua vida era magnífica. Filha de pais que tentavam a todo o custo fazer parte da nata da sociedade carioca, fora ensinada a ser perfeita.

Agora, ela simplesmente se cansara dessa hipocrisia social e decidira mudar sua vida. Ela não tinha culpa se todo o dinheiro dos seus pais não poderia comprar um nome de alguma família tradicional. Começou a namorar Pedro por insistência da mãe. Sob o discurso de que Pedro lhes traria um nome, lhes traria status social, que ela aprenderia a amá-lo com o tempo e que isso era o que realmente importava para uma vida plena e feliz. Ela resistiu no início, mas depois cedeu.
Pedro Albuquerque era um protótipo perfeito de namorado, e gostava dela. Tudo que ela fez foi dizer sim.

Desde então, sua vida caminhou para o ápice da insatisfação pessoal, tão mascarada pela hipocrisia que ninguém nunca notou, nem mesmo seus amigos. Mas agora, ela havia cansado de tudo aquilo e decidira fazer o que quisesse e o que tivesse vontade, na hora que tivesse vontade. Optara por agir de acordo com os seus princípios e vontades, mesmo que isso magoasse seus pais.

Chegara o último degrau. Ela segurou a maçaneta, hesitou por um momento e disse baixinho, como um desabafo para si mesma:

- eu fiz o certo. Não era justo estar prendendo-o daquele jeito. Três anos, e eu não o amava, embora saiba que não encontrarei pessoa melhor do que ele para me relacionar. Assim, eu o estou poupando, e poupando a mim. Pedro vai sobreviver. Chega de me importar com os outros, daqui pra frente, vou me importar comigo, com os meus objetivos e vou ser o que eu realmente sou.

Entrou no quarto, tirou o vestido, deitou-se e dormiu. Sem banho, com maquiagem.

CAPÍTULO 1.

Era início de outubro, de um ano que não importava. Eles estavam no carro, voltando de um fim de semana no sítio do avô dele. Tudo havia sido perfeito, assim como o namoro de 3 anos havia sido até então. Nunca brigavam, ele estava sempre disposto a ouvi-la e acalmá-la. Pedro era o namorado perfeito, ou melhor, a perfeição em pessoa: 19 anos, educado, sincero, romântico, esforçado, inteligente e bonito. Como era bonito.

Ela também não ficava rebaixada perto dele. Alta, esguia, cabelos loiros e lisos, mas levemente encaracolados nas pontas. Olhos expressivos e de um castanho profundo, ainda mais destacados por cílios longos, quase que cruéis. Boca carnuda sempre coberta por um gloss levemente rosado que dava o toque final naquele rosto que parecia feito à mão. Era inteligente como ele, e tinha um esforço quase que doentio para que tudo estivesse em seu lugar certo, em seu eixo, perfeccionista como era. Tinha o sonho de fazer a faculdade perfeita, ter o casamento, os filhos e emprego perfeitos. Mas agora, ela estava simplesmente trajando um vestidinho de verão rosa claro e sandálias de marca igual ao seu nome. Melissa estava muda, com a cabeça apoiada no vidro do carro. Seus lindos olhos traziam uma expressão vazia. Naquele momento, se eles são mesmo a janela para a alma, sua alma estava vagando, explorando um lugar bem longe dali. Ele a perguntou se estava tudo bem, ela disse que sim. Sua clara fisionomia mostrava que não. Ela parecia estar pensando em algo que mudaria toda a sua vida. E estava.

Pedro parou o carro. Tinham regrassado, chegara a hora da despedida. Ele abriu a porta do carona, ela desceu e ele a segurou pela cintura, fechou a porta de maneira gentil, e empurrou a garota levemente contra o carro, mas firme. E a beijou. Um beijo tenro, delicado. Retribuído quase que com culpa. Deram-se as mãos e andaram até a porta da casa. Ela soltou a mão dele e finalmente disse alguma coisa.

- Eu quero terminar.
Ele riu.
- Mel, você não é de brincar, por que quer começar agora? Melhor você entrar logo, antes que eu não resista, te agarre e te leve pra minha casa!

Ela manteve a feição e então ele entendeu que ela não queria começar a brincar. Era sério.

Aparentemente três anos de perfeição estavam sendo descartados. Pedro sentiu-se congelar, estremecer e ter seu coração fragmentado em milhões de pedaços. Pensou em tentar fazê-la mudar de idéia enquanto tentava controlar a dor, mas tudo que conseguiu fazer foi perguntar o porquê. O que poderia ter acontecido no final de semana? Se correra tudo bem, o que mais poderia abalar um relacionamento tão exemplar?

- Desculpa, pê. Não aconteceu nada. Eu só cansei disso. Cansei de tentar ser perfeita, cansada de todo esse marasmo, de toda essa perfeição. Eu não sei o que eu quero. Mas agora eu vejo que é bem diferente de tudo que consegui. Obrigada por todos esses anos e por todo o carinho. De verdade. Não me procura mais, por favor.

Dizendo isso, beijou-o na testa de forma estalada, abriu a porta, olhou-o mais uma vez, e entrou. Ele estava apático, parado exatamente onde ela o deixou. Então olhou pro chão, como quem procura pelo coração despedaçado, e dirigiu-se ao carro. Entrou, respirou fundo e foi embora. Pedro conhecia Melissa muito bem, e sabia que quando ela tomava decisões, ela não voltava atrás. Entretanto, não precisava conhecê-la por tanto tempo para saber que aquele último olhar era definitivo, ela não queria vê-lo nunca mais.

PRÓLOGO.

estou escrevendo um livro. se vai ficar bom, duvido.
também não faço a menor ideia de quanto tempo levarei para terminar.
mas vou postá-lo aqui. :)

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PRÓLOGO.

Mais uma vez, como uma menininha indefesa, ela estava presa no seu mundinho, cada vez mais paralelo a realidade, enquanto se via sentada em sua cama, a chorar lágrimas que cada vez mais se assemelhavam a sangue. Com tanta gente no mundo, por que ela o queria tão fortemente? Por que mesmo sabendo que poderia muito bem viver sem ele, ela continuava a insistir nesse amor platônico?

Enquanto ela se via presa na fantasia e nas lembranças que faziam seu coração palpitar, o telefone tocava.