Pense, Fale, Exponha-se. Permita-se o prazer de ser autêntico.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mórbido.



Ele a trouxera para casa ao amanhecer, a colocara sobre a cama e fora tomar banho. Sua amada merecia a melhor forma que ele pudesse apresentar. Banhou-se, pôs sua melhor roupa e sentou-se na cama ao lado dela.

O corpo em repouso trazia uma expressão tranquila, enquanto trajava um lindo vestido branco de tafetá bordado com lantejoulas. Um vestido visivelmente de casamento. Entre as mãos, trazia um discreto buquê de suas flores preferidas - rosas brancas.

Fernando tocou levemente o queixo da amada. Em seguida, subiu suas mãos até que pudesse acariciar as maçãs de seu rosto. Ela já começara a tornar-se fria. Literalmente fria. Sob a maquiagem, notava-se que ela ficava cada vez mais pálida. Mais fria e mais pálida. A vida parecia exaurir-lhe pelos poros.

Fernando se lembrou de quando a viu pela primeira vez, a primeira vez que notou aqueles cachos dourados tão sublimes. Ele a amou desde aquele dia nublado de outono. Mas ele nunca a deixou saber disso.

Ele a observara por meses, mas nunca teve coragem de se apresentar. O que diria? Oi, te vi por aí, te amei à primeira vista e então comecei a te seguir? Não, ele não arriscaria sofrer repulsa pelo amor de sua vida. Então, ele apenas a observava. Viu-a sair com alguns, namorar com poucos e tornar-se noiva de outro. Casamento marcado, vestido escolhido, noivo errado.

Quem quer fosse o futuro marido sem dúvida não a amava sequer metade do que Fernando amava. Ele a amava mais do que tudo no mundo, mais do que qualquer um um dia viria a amar. Fernando desejava não apenas seu corpo, mas a sua essência.

Por isso ele a matara. Só assim ela seria dele - e de mais ninguém.

Fernando a olhou mais uma vez. Um longo e pesado olhar sobre a mulher mais perfeita que ele já vira, na tentativa de entender como alguém conseguia ser tão linda, ainda mais sob a pouca luz da aurora que entrava pela janela. Deitou a seu lado sobre a cama. Em seguida, bebeu algo que, pelo seu semblante, pareceu amargo. Fechou os olhos e a abraçou.

Para toda a eternidade estariam juntos. Pra ele, o amor era isso, não podia imaginar forma melhor de deixar a vida do que ao lado da mulher amada. Pra ela, o amor dele tinha sido apenas frio, doentio e - sobretudo - mórbido.

(sb; 14:47)

Um comentário:

  1. possessividade doentia. sei como é isso, já vivi, e com certeza, não leva a lugar nenhum, e não há amor nenhum ai.

    homens e suas inseguranças e loucuras, não há nem sentido, tentar entender.

    ResponderExcluir