Pense, Fale, Exponha-se. Permita-se o prazer de ser autêntico.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

CAPÍTULO 1.

Era início de outubro, de um ano que não importava. Eles estavam no carro, voltando de um fim de semana no sítio do avô dele. Tudo havia sido perfeito, assim como o namoro de 3 anos havia sido até então. Nunca brigavam, ele estava sempre disposto a ouvi-la e acalmá-la. Pedro era o namorado perfeito, ou melhor, a perfeição em pessoa: 19 anos, educado, sincero, romântico, esforçado, inteligente e bonito. Como era bonito.

Ela também não ficava rebaixada perto dele. Alta, esguia, cabelos loiros e lisos, mas levemente encaracolados nas pontas. Olhos expressivos e de um castanho profundo, ainda mais destacados por cílios longos, quase que cruéis. Boca carnuda sempre coberta por um gloss levemente rosado que dava o toque final naquele rosto que parecia feito à mão. Era inteligente como ele, e tinha um esforço quase que doentio para que tudo estivesse em seu lugar certo, em seu eixo, perfeccionista como era. Tinha o sonho de fazer a faculdade perfeita, ter o casamento, os filhos e emprego perfeitos. Mas agora, ela estava simplesmente trajando um vestidinho de verão rosa claro e sandálias de marca igual ao seu nome. Melissa estava muda, com a cabeça apoiada no vidro do carro. Seus lindos olhos traziam uma expressão vazia. Naquele momento, se eles são mesmo a janela para a alma, sua alma estava vagando, explorando um lugar bem longe dali. Ele a perguntou se estava tudo bem, ela disse que sim. Sua clara fisionomia mostrava que não. Ela parecia estar pensando em algo que mudaria toda a sua vida. E estava.

Pedro parou o carro. Tinham regrassado, chegara a hora da despedida. Ele abriu a porta do carona, ela desceu e ele a segurou pela cintura, fechou a porta de maneira gentil, e empurrou a garota levemente contra o carro, mas firme. E a beijou. Um beijo tenro, delicado. Retribuído quase que com culpa. Deram-se as mãos e andaram até a porta da casa. Ela soltou a mão dele e finalmente disse alguma coisa.

- Eu quero terminar.
Ele riu.
- Mel, você não é de brincar, por que quer começar agora? Melhor você entrar logo, antes que eu não resista, te agarre e te leve pra minha casa!

Ela manteve a feição e então ele entendeu que ela não queria começar a brincar. Era sério.

Aparentemente três anos de perfeição estavam sendo descartados. Pedro sentiu-se congelar, estremecer e ter seu coração fragmentado em milhões de pedaços. Pensou em tentar fazê-la mudar de idéia enquanto tentava controlar a dor, mas tudo que conseguiu fazer foi perguntar o porquê. O que poderia ter acontecido no final de semana? Se correra tudo bem, o que mais poderia abalar um relacionamento tão exemplar?

- Desculpa, pê. Não aconteceu nada. Eu só cansei disso. Cansei de tentar ser perfeita, cansada de todo esse marasmo, de toda essa perfeição. Eu não sei o que eu quero. Mas agora eu vejo que é bem diferente de tudo que consegui. Obrigada por todos esses anos e por todo o carinho. De verdade. Não me procura mais, por favor.

Dizendo isso, beijou-o na testa de forma estalada, abriu a porta, olhou-o mais uma vez, e entrou. Ele estava apático, parado exatamente onde ela o deixou. Então olhou pro chão, como quem procura pelo coração despedaçado, e dirigiu-se ao carro. Entrou, respirou fundo e foi embora. Pedro conhecia Melissa muito bem, e sabia que quando ela tomava decisões, ela não voltava atrás. Entretanto, não precisava conhecê-la por tanto tempo para saber que aquele último olhar era definitivo, ela não queria vê-lo nunca mais.

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